segunda-feira, 23 de abril de 2012


O sonho

Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.
Clarice Lispector

Como nascem as manhãs - Flora Figueiredo

O fundo dos olhos da noite
guarda silêncios.
Esconde na retina
a menina que corre descalça em campo aberto.
Pálpebras cerradas, a noite emudece.
A menina com medo
faz um furo no escuro com a ponta do dedo.
Cai um pingo de luz.
Amanhece.

A moça do vestido verde - Flora Figueiredo

Discreta, ela atravessa a rua em linha reta.
Todos os dias a vejo passar no mesmo horário.
O vestido ligeiramente comprido,
cintura no lugar, bolsa na mão.
No pescoço, o cordão e o escapulário.
Ela não olha para os lados.
Para quê?
Mulheres são indecentes, homens safados.
O melhor é fingir que não se vê.
E os camelôs e suas barracas ilegais?
Ela arrisca um olho
seduzida pelo barulho colorido,
mas logo se arrepende e não olha mais:
seu recato não permite resvalar o proibido.
Ontem, a moça do vestido verde deu um encontrão
no rapaz de bigodinho, pasta, perfume, colarinho;
o conteúdo da bolsa espalhou-se pelo chão.
Constrangido, ele ajudou a moça do vestido,
pediu desculpas, beijou-lhe a mão.
Hoje, eu a vejo passar na hora certa.
A bolsa, a cintura no lugar, a postura ereta.
Ela pára, olha para os lados, retoca-se no espelho.
A moça segue radiante. O vestido é vermelho.

Aquietei minha tristeza nos seus olhos,
amansei minha pressa no seu tempo,
apoiei meu sonho em seu pensamento.
Minha fantasia pendurada no seu peito,
minha vontade apoiada em seu direito,
pintei meu perfil em sua identidade.
Desliguei o minuto
que é para saber se porventura escuto
as fibras do meu coração em desalinho;
Seu clone, seu sangue, seu carbono,
desenrolei debaixo dos seus passos meu caminho.
Clonagem - Flora Figueiredo
Não seremos marido e mulher,
nem mesmo amantes.
Que tal apenas namorados intermitentes,
docemente nos amando, itinerantes?
Trocaremos afagos, quando o dia adormecer,
na encruzilhada;
deixarei em você meus cheiros de mulher.
Lançaremos olhares disfarçados,
que certamente passarão despercebidos,
pois namorados são de Deus os protegidos.
Quando nossas mãos roçarem-se furtivas,
vão insinuar desejos abafados,
pelas regras da vida censurados,
mas que são flores no canteiro, sempre-vivas.
Ao nos encontrarmos pela tarde rua acima,
lá onde a mangueira domina a rotatória,
assinarei um verso sublimado
a grafitar nossa parede divisória.

Grafite - Flora Figueiredo